Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Desde criança, Jéssica dava aulas de dança em escolas de Camobi. Hoje, ela trabalha com isso e continua levando, de forma voluntária, essa arte para jovens da periferia
Nascida em Porto Alegre, mas moradora de Santa Maria desde os 3 anos, Jéssica Loss Barrios, 26 anos, é apaixonada pelo voluntariado desde a infância. Aos 11, ela já dava aulas para crianças do turno da tarde, na Escola Antônio Gonçalves do Amaral, no Bairro Camobi. Com uma grande predisposição para o ritmo, a oportunidade de transmitir o seu talento para os outros veio por meio da professora Rosana Severo, na disciplina de Educação Física. Nessa escola, Jéssica ministrou aulas durante sete anos de forma gratuita. Quando estava prestes a se formar no Ensino Médio, a jovem criou o grupo de dança Ritmo de Camobi, em que, além de dar aulas sobre diversos estilos, passou a levar a arte para regiões periféricas do Coração do Rio Grande.
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Desde que o Ritmo de Camobi foi formado, várias instituições que atendem crianças em situação de vulnerabilidade social foram auxiliadas pelo projeto. Entre elas, o Lar Vila das Flores, a ONG Estação dos Ventos e a Escolinha do Movimento Voluntário Social Sonho Encantado. Como inspiração para levar a dança a quem não tem condições de pagar por aulas particulares, Jéssica se baseou na própria trajetória de encantamento pelas músicas, coreografias, passos e tudo que envolve a expressão corporal:
- Eu comecei a dançar dentro da escola por incentivo da professora de Educação Física, e essa arte passou a ser meu estilo de vida. Quando criança, não tive condições de pagar por aulas para ser dançarina em uma equipe de dança particular. Agora, quero oportunizar esse aprendizado para outras crianças e adolescentes.
UNIÃO E SUPERAÇÃO
Em 2014, a direção da Escola Antônio Gonçalves do Amaral entendeu que as aulas não poderiam continuar na instituição de ensino, pois o local não tinha estrutura física para a realização dos ensaios. O piso de concreto da quadra atrapalhava as coreografias, e a falta de isolamento acústico fazia com que as músicas ecoassem pela escola inteira, atrapalhando os professores que estavam nas salas do prédio. No entanto, Jéssica e os alunos passaram a pagar do próprio bolso o valor necessário para alugar o espaço da Associação de Moradores do Parque Residencial Santa Lúcia, que fica ao lado da escola.
Foi nessa época que o grupo deixou um pouco de lado os estilos livres de dança e começou a focar em coreografias urbanas, porque o piso do novo ambiente possibilitava um novo leque de movimentos. Além disso, Jéssica estudou esse estilo em cursos de dança da Região Central por meio da participação dela em companhias de dança de Santa Maria.
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- Foi nesse ano que o grupo Ritmo de Camobi se tornou totalmente independente da escola. Passamos a focar, também, na cultura do hip hop e nas danças de rua - conta Jéssica.
Atualmente, a Ritmo de Camobi se tornou uma escola de dança, onde Jessica atua como professora, de forma remunerada. Porém, ela não deixou a solidariedade de lado e, hoje, coordena aulas de dança, de forma voluntária, em três escolas da cidade: Diácono João Luiz Pozzobom, Humberto de Alencar Castelo Branco e Santa Marta. Na Castelo Branco, no Bairro Boi Morto, o projeto atinge 12 alunos, meninos e meninas, do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Os alunos de Jéssica no Ritmo de Camobi a auxiliam na hora de ministrar os passos para os pequenos. As atividades ocorrem uma vez por semana, no turno inverso às aulas. A vice-diretora do turno da tarde da escola, Carine Ferreira Machado Virago, afirma que a dança traz vários benefícios aos alunos:
- Os alunos criam responsabilidade, desenvolvem a coordenação motora, ocupam um tempo ocioso que teriam à tarde. É muito interessante. A nossa escola está sempre de portas abertas para iniciativas como a da Jéssica.
Bianca Tauchen, 13 anos, é aluna do 8º ano da Escola Castelo Branco e vê em Jéssica uma referência:
- A gente gosta de hip hop, e o encontro é muito divertido. Ajuda a gente a se acalmar um pouco. É bem legal. Quando crescer, quero continuar envolvida com a dança assim como a Jéssica. Quero ensinar os outros.
Para Jéssica, que é formada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o objetivo de inserir as crianças e jovens no circuito cultural da cidade está sendo cumprido.
Em 2019, o grupo Ritmo de Camobi foi contemplado pelo edital Pró-cultura, da prefeitura de Santa Maria, e conseguiu ampliar e manter as suas ações.
- Muitos alunos nunca tiveram a oportunidade de entrar no teatro. Então, promover isso para eles através da dança é o que me motiva a executar ações como essa - emociona-se Jéssica.
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RESULTADOS NO PALCO
O produto do trabalho de Jéssica e de seus alunos será mostrado no Theatro Treze de Maio, amanhã. Na ocasião, a partir das 20h, os alunos das três escolas vão apresentar coreografias que contarão a história e a evolução das danças de rua e da cultura do hip hop.
A apresentação se chamará O Palco Agora é a Rua, e o ingresso custará dois quilos de alimentos não perecíveis e um agasalho.
*Colaborou Rafael Favero